Por Fidel Castro Ruz
Os povos que habitam o planeta, em todas as partes, correm riscos econômicos, ambientais e bélicos, derivados da política dos Estados Unidos, mas em nenhuma outra região da terra se vêem ameaçados por tão graves problemas como seus vizinhos, os povos localizados neste continente ao Sul daquele país hegemônico.
A presença de tão poderoso império que em todos os continentes e oceanos dispõe de bases militares, porta-aviões e submarinos nucleares, navios de guerra modernos e aviões de combate sofisticados, portadores de todo o tipo de armas, centenas de milhares de soldados, cujo governo reclama para eles impunidade absoluta, constitui a dor de cabeça mais importante de qualquer governo, seja de esquerda, centro ou direita, aliado ou não dos Estados Unidos.
Ao longo de séculos essa nação reclamou direitos privilegiados sobre o nosso Continente. Nos anos de Martí tentou impor uma moeda única baseada no ouro, um metal cujo valor tem sido o mais constante ao longo da história. Geralmente o comércio se baseia nele. Hoje nem sequer isso. Desde os tempos de Nixon, o comércio mundial foi instrumentado com notas de papel impresso pelos Estados Unidos: o dólar, uma divisa que hoje tem um valor por volta de 27 vezes menor do que no começo da década de 70, uma das tantas maneiras de dominar e calotear o resto do mundo. Hoje, no entanto, outras divisas substituem o dólar no comércio internacional e nas reservas de moedas conversíveis.
Antes esta e outras realidades, os governantes dos países da Unasul, do Mercosul, do grupo do Rio e de outros, não podem deixar de analisar a justa pergunta venezuelana. Qual é o sentido das bases militares e navais que os Estados Unidos querem estabelecer ao redor da Venezuela e no coração da América do Sul? Lembro que há vários anos, quando entre a Colômbia e a Venezuela, duas nações irmãs pela geografia e pela história, as relações se tornaram perigosamente tensas, Cuba promoveu em silêncio importantes passos de paz entre ambos. Os cubanos jamais estimularemos a guerra entre países irmãos. A experiência histórica, o destino manifesto proclamado e aplicado pelos Estados Unidos, e a fraqueza das acusações contra a Venezuela de fornecer armas às Farc, associadas às negociações com o propósito de conceder sete pontos do território colombiano para uso aéreo e naval das Forças Armadas dos Estados Unidos, obrigam a Venezuela a fazer investimentos em armas, recursos que poderiam ser empregues na economia, nos programas sociais e na cooperação com outros países da área com menos desenvolvimento e recursos. Não se arma a Venezuela contra o povo irmão da Colômbia, arma-se contra o Império, que tentou derrocar a Revolução e hoje tenta instalar nos arredores da fronteira venezuelana as suas armas sofisticadas.
Seria um erro grave pensar que a ameaça é apenas contra a Venezuela; é dirigida a todos os países do Sul do continente. Nenhum governo poderia ignorar o tema e assim o têm declarado vários deles.
*Texto publicado na revista Caros Amigos, de setembro de 2009, pg. 26.
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